Andreia Verdélio – Agência Brasil
Foto Reprodução Internet |
As mulheres trabalham, em média,
7,5 horas a mais que os homens por semana devido à dupla jornada, que inclui
tarefas domésticas e trabalho remunerado. Apesar da taxa de escolaridade das
mulheres ser mais alta, a jornada também é.
Os dados estão destacados no
estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado hoje (6) pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo é feito com base em
séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Em 2015, a jornada total média
das mulheres era de 53,6 horas e a dos homens, de 46,1 horas. Em relação às
atividades não remuneradas, a proporção se manteve quase inalterada ao longo de
20 anos: mais de 90% das mulheres declararam realizar atividades domésticas; os
homens, em torno de 50%.
“A responsabilidade feminina
pelo trabalho de cuidado ainda continua impedindo que muitas mulheres entrem no
mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, aquelas que entram no mercado continuam
respondendo pela tarefas de cuidado, tarefas domésticas. Isso faz com que
tenhamos dupla jornada e sobrecarga de trabalho”, afirmou a especialista em
políticas públicas e gestão governamental e uma das autoras do trabalho,
Natália Fontoura.
Segundo Natália, a taxa de participação
das mulheres no mercado de trabalho aumentou muito entre as décadas de 1960 e
1980, mas, nos últimos 20 anos, houve uma estabilização. “Parece que as
mulheres alcançaram o teto de entrada no mercado de trabalho. Elas não
conseguiram superar os 60%, que consideramos um patamar baixo em comparação a
muitos países.”
Chefes
de família e mulheres negras
O estudo observou ainda que
aumentou o número de mulheres chefiando famílias. Em 1995, 23% dos domicílios
tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número
chegou a 40%.
As famílias chefiadas por
mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina:
em 34% delas havia a presença de um cônjuge. “Muitas vezes, tais famílias se
encontram em maior risco de vulnerabilidade social, já que a renda média das
mulheres, especialmente a das mulheres negras, continua bastante inferior não
só à dos homens, como também à das mulheres brancas”, diz o estudo.
O Ipea verificou a sobreposição
de desigualdades com a desvantagem das mulheres negras no mercado de trabalho.
Segundo Natália, apesar de mudanças importantes, como o aumento geral da renda
da população ocupada, a hierarquia salarial – homens brancos, mulheres brancas,
homens negros, mulheres negras – se mantém.
“A desvantagem das mulheres
negras é muito pior em muitos indicadores, no mercado de trabalho em especial,
mas também na chefia de família e na pobreza. Então, é quando as desigualdades
de gênero e raciais se sobrepõem no nosso país”, disse a especialista,
destacando que a taxa de analfabetismo das mulheres negras é mais que o dobro
das mulheres brancas. Entre os homens, a distância é semelhante.
Menos
jovens domésticas
O Ipea destacou também a
redução de jovens entre as empregadas domésticas. Em 1995, mais de 50% das
trabalhadoras domésticas tinham até 29 anos de idade (51,5%); em 2015, somente
16% estavam nesta faixa de idade. Eram domésticas 18% das mulheres negras e 10%
das mulheres brancas no Brasil em 2015.
“Nesses últimos 20 anos,
podemos ver algumas tendências interessantes, como o aumento da renda das
trabalhadoras domésticas. Só que, ainda assim, em 2015, a média do Brasil não
alcançou nem o salário mínimo”, afirmou Natália. Em 2015, a renda das
domésticas atingiu o valor médio de R$ 739,00 em 2015, enquanto o salário mínimo,
à época, era de R$ 788.
O número de trabalhadoras
formalizadas também aumentou, segundo o Ipea. Em 1995, 17,8% tinham carteira e
em 2015, a proporção chegou a 30,4%. Mas a análise dos dados da Pnad mostrou
uma tendência de aumento na quantidade de diaristas no país. Elas eram 18,3% da
categoria em 1995 e chegaram a 31,7% em 2015.
Escolaridade
entre raças
Segundo o Ipea, nos últimos
anos, mais brasileiros e brasileiras chegaram ao nível superior. Entre 1995 e
2015, a população adulta negra com 12 anos ou mais de estudo passou de 3,3%
para 12%. Entretanto, o patamar alcançado em 2015 pelos negros era o mesmo que
os brancos tinham já em 1995. A população branca com tempo de estudo igual ao
da negra praticamente dobrou nesses 20 anos, variando de 12,5% para 25,9%.
O estudo Retrato das
Desigualdades de Gênero e Raça está disponível no site do Ipea.
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